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TÁ LIGADO II

Atualizado: 19 de nov. de 2023

De início, o autor Hugo Monteiro, reconhece o quanto é desafiador ouvir, em silêncio, os relatos de medo, angústia, ansiedade e vulnerabilidade desta geração e a importância dos familiares e profissionais na tentativa de ajudar, dispor a ouvir, acolher, cuidar e minorar o profundo sofrimento daqueles que parecem não pedir, não querer, nem aceitar qualquer forma de aproximação ou ajuda. São relatos comuns: “no quarto, eu fico menos mal, entende?” “Eu chego em casa e me enfio no quarto, não saio de lá”. “Só eu e o meu celular e as minhas músicas, os meus cortes e a minha vontade de sumir daquela casa”. “A gente se corta e depois a gente lista o que deve ser feito primeiro – se queimar ou usar a corda no pescoço” .


Situações como: comportamento depressivo, tentativa de suicídio, polidependência, consumo de drogas pesadas, bebedeiras reiteradas, pornografia em excesso, transtornos alimentares como anorexia e bulimia, apatia, absenteísmo, evasão e queda do rendimento escolar, comportamento impulsivo, imediatista, infração de regras, com tendência ao vandalismo, abuso sexual, ciberdependência parecem desenhar o cenário em que vive o jovem enclausurado. Mas o próprio jovem revela sua insatisfação com o seu microcosmos – “Eu não gosto de ser assim como eu sou. Tá ligado?” Tal fato demonstra uma geração incomodada consigo mesma, que se nega a se olhar no espelho. Eu ponho o fone de ouvido e, quando eles vêm com aquela conversa, finjo ouvir, mas não escuto, quer dizer, escuto a música ou qualquer barulho”.


Uma geração solitária, dentro da própria casa – “vejo meu pai, menos do que vejo o secretário dele”. “Eu só queria o meu pai em casa, mas ele trabalha no hospital e dá muitos plantões” Os pais da geração do quarto estão no mercado de trabalho e passam de 8 a 12 horas fora de casa, priorizando o sustento da família, a aquisição de bens de consumo, o que fica claro no depoimento deste pai: “dar o melhor para os meus filhos, a melhor escola, as melhores roupas, a melhor viagem, pois eles merecem o melhor”. Alguns pais não se vêem na condição de educadores – “ É uma coisa louca ter filhos. Eu não sei criar. Minha vida é muito corrida e eu não sei educar. Para não ficarem no meu pé, eu dou o que pedem, e, mesmo que eu saiba que não pode ser assim, eu prefiro” São crianças educadas por terceiros, abandonadas a um cotidiano sem os pais por perto, sem estabelecer diálogo, apenas um vínculo frágil entre pais e filhos. E quando algo mais grave acontece, os pais passam a entender melhor e a sofrer por isso: “estou vivendo como um zumbi, na ilusão, de que viver é guardar dinheiro e comprar aparência”



E a família? O que mudou? A família dessa geração do quarto não se mostra configurada como as tradicionais, nucleares ou mesmo contemporâneas. É uma família sazonal, volátil, oscilante, imprevisível, multifacetada e dinâmica, mas emocionalmente instável. “Minha mãe se casou com meu pai e eu nasci, se separaram; ela se casou com meu pai afetivo e meu irmão nasceu e depois ela começou a namorar meu padrasto da vez e eu dancei nesta história” Famílias adoecidas forjam infâncias adoecidas, e as famílias adoecidas também adoecem as sociedades para além das famílias e os pais parecem ser os principais agentes de adoecimento dos seus filhos. “Na minha casa, todo mundo tem psiquiatra, e meu pai, ele precisa muito; minha madrasta também e eu preciso também. De boa, é tudo noiado” “Por muito tempo meu filho sofreu... Hoje, depois que ele se afundou nas drogas e cometeu suicídio, eu sinto que a gente não soube ter um filho”. Não é toda família capaz de educar seus filhos.


Será que isso está acontecendo só no Brasil? Saiba mais no Blog do IONS – no “Tá Ligado III” em nossa próxima edição.

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