É verdade que a prática recreativa do boxe tem o poder de liberar instantaneamente neurotransmissores da felicidade e atuar como um poderoso antidepressivo?
Na revisão sistemática, intitulada – Effects of olimpic combat sports on older adult’s Health status, publicada no International Journal of Environmental research and Public Health em 2021, os autores avaliaram mais de 3000 publicações e selecionaram 71 estudos para análise, cujo enfoque foi avaliar os efeitos de modalidades desportivas como boxe, judô, karatê, taekwondo e esgrima em indivíduos idosos. Foram estudados os efeitos físicos, fisiológicos e o estado psicoemocional de quase 800 idosos com idade média de 69,6 anos. Quando monitorados, a taxa de adesão à prática foi superior a 80%.
Neste estudo, dentre outros benefícios, observou-se que houve melhora da força muscular, da capacidade cardiorrespiratória, da agilidade, do equilíbrio, da atenção, memória, saúde mental, redução da ansiedade e maior tolerância ao estresse. Especificamente em relação ao boxe, os estudos mostraram significativa melhora no condicionamento físico, no ganho de força, na velocidade de movimentação e maior tolerância a longas caminhadas, maior estabilidade da marcha (com menos quedas), maior habilidade nos movimentos dos membros superiores (especialmente rotação e elevação dos braços), maior capacidade de resistência ao esforço, melhora da função cognitiva, tanto na evocação da memória imediata e tardia, melhora significativa na qualidade de vida, comparativamente ao grupo controle.
Em relação ao boxe, especificamente, vale lembrar que é um esporte combativo, que trabalha o corpo todo e adiciona algumas vantagens sobre outras modalidades de exercício físico, não apenas em indivíduos saudáveis, mas também em pacientes com doenças neurológicas. Em artigos como: Boxing training for patients with Parkinson disease: a case series (2011); Effects of Home-Based Boxing Training on Trunk Performance, Balance, and Enjoyment of Patients With Chronic Stroke (2023) os autores mostram a segurança do treino de boxe nestes pacientes e a melhora no equilíbrio e nas atividades de vida diária. Há fortes evidências de que o boxe auxilia na atenção plena e age como se fosse uma prática de meditação, levando a mudanças significativas no funcionamento cerebral, fortalecendo o processo de autoconhecimento e autoconfiança.
No entanto, é difícil começar um esporte, principalmente como o boxe, que está geralmente associado a traumas graves, além de doenças neurológicas como a demência do pugilista e síndrome parkinsoniana. Se as pessoas são sedentárias ou se elas estão depressivas ou ansiosas, o pontapé inicial para exercitar o boxe pode ser engessado pela desinformação que circula na mídia.
Quando você pratica o boxe, você não apenas se concentra em acertar o alvo, utilizando o método do sparring (uma forma de treino monitorado para aperfeiçoar a técnica, evitando lesões), mas também na forma como seu corpo se movimenta e no modo como você respira. Enquanto você está treinando, você não consegue pensar nada além de realizar com perfeição a sequência de movimentos apresentados pelo seu treinador.
O iniciante no boxe, pode começar com treinos curtos de até 15 minutos, monitorados por um professor habilidoso e habilitado, lembrando que a ação precede a motivação (princípio básico da terapia cognitivo-comportamental). É importante ser tolerante, paciente e compassivo consigo mesmo, até que surja um entusiasmo permanente. No início, é preciso estabelecer uma rotina, seguir os conselhos dos profissionais, as dicas e os passos (A, B, C) para a prática recreativa do boxe. Somente a constância da prática continuada pode resultar em efeitos benéficos.
No geral, não há contra-indicações absolutas. O boxe recreativo pode ser praticado por crianças a partir dos 10 anos até idosos, sempre seguindo as orientações médicas, especialmente para quem tem algum tipo de lesão ortopédica impeditiva e problemas cardíacos, por exemplo.
Não hesite! O boxe traz muitos benefícios para sua saúde física e mental.
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